- Enquanto uns reclamam das barreiras, outros transformam-nas em oportunidades.
O desassoreamento da vala do rio Mulaúza, que abastece os campos agrícolas a partir do bairro Luís Cabral – cidade de Maputo, até ao bairro de Intaka – na cidade da Matola, província de Maputo, constitui um dos maiores embaraços da produção agrícola naquela zona.
A zona baixa do rio Mulaúza é considerada uma das maiores fontes de abastecimento de hortícolas aos mercados da cidade de Maputo e Matola, como é o caso dos mercados: grossista do Zimpeto, Mercado Central, Mercado da Malanga, entre outros.
Além da salinidade do solo e outros males que propiciam a perda de culturas diversas no local, mais se destaca o alagamento dos campos agrícolas que dura, no mínimo, 6 meses até a água baixar – propiciado pelo desassoreamento da vala do rio.
“Ficava muito tempo sem produzir, porque as águas inundavam os campos. Minha família passava necessidades, mas não tinha nada a fazer senão esperar a água baixar, daí que mudei de estratégia, adoptei o sistema de plantio rotação de culturas para contornar o obstáculo”, disse António Savele – agricultor nas imediações da baixa do rio Malaúza.
A rotatividade de culturas consiste em alternar, de forma ordenada, diferentes espécies vegetais em determinado espaço de tempo, na mesma área e na mesma estação do ano.
Segundo Savele, “a inundação dos campos agrícolas nas bermas do rio Mulaúza constitui o principal e maior obstáculo de produção naquela área”.
A forma mais adequada para resilir-se deste obstáculo, conforme diz António Savele, é a adopção de políticas de produção que transformam o obstáculo em solução.
Por isso, com 24 anos de carreira no sector agrícola, pai de 5 filhos, 64 anos de idade, decidiu mudar o paradigma – deixou de reclamar e optou pelo sistema de rotatividade de culturas para produzir, transformando aquela dificuldade em oportunidade.
“No período chuvoso, quando os campos estiverem alagados, ao invés de hortícolas planto arroz que precisa de muita água para sua maturação e, quando a água baixa, planto hortícolas que não precisam de muita água e vice-versa”, reiterou.
Trata-se de uma acção que, segundo a fonte, serve de solução para superar um dos maiores problemas que apoquenta a maioria senão todos os campesinos da baixa do rio Mulaúza.
O uso de técnicas agrícolas, para o camponês, vem sendo o único e melhor meio para continuar a produzir para subsistência. Por isso, a produção de arroz é integralmente destinada à alimentação e não à venda.
“Não estou a produzir arroz para vender, não por falta de mercado, mas devido a minha situação de desempregado. Preciso garantir alimentação a família. Prefiro poupar mil e quinhentos meticais de vinte e cinco quilos de arroz mensais para comprar outros produtos que não posso produzir na machamba, como sal, açúcar e sabão”, disse.
Embora ele seja criativo até ao ponto de conseguir superar a grande dificuldade que apoquenta a maior parte dos camponeses no local, existem outros obstáculos que enfrenta no seu sector de trabalho, nomeadamente: a falta de uma parcela de terra mais extensa que permitiria produzir para comercialização; falta de valor monetário para compra de produtos químicos para incrementar a produção do arroz, entre outros.
Para o aluguer do espaço no qual pratica suas actividades paga, mensalmente, 3.000.00mt (três mil meticais) que para ele é a maior barreira para o alcance dos seus objectivos.
Falando à nossa equipa de reportagem, a fonte destacou a necessidade de os agricultores adoptarem políticas de resolução de problemas ao invés de viver se queixando deles.
Ele é o espantalho da sua própria machamba.
A sua experiência na produção de arroz inicia na terra natal, na província de gaza, localidade de Tavane, onde adquiriu as primeiras sementes de arroz.
Os espantalhos, para ele, são somente bonecos que não passam de simples objectos espectados no campo de produção e nada mais fazem que a sua mera exposição.
“Muitas vezes nos enganamos que os espantalhos de paus com roupas penduradas amedrontam pássaros, mas é mentira. O que acontece é que boa parte da produção deixamos ao alimento do passarinho. Por isso, prefiro controlar pessoalmente em vez de confiar nos paus”, revelou.
Ainda na sua dissertação, disse não se sentir a perder ficar na machamba das 5 às 18h, uma vez que está ao serviço do bem-estar da sua família.
Questionado sobre futuros planos na produção de arroz, revelou-nos que almeja incrementar a sua produção para um nível industrial. Ter empregados para produção de arroz, mas para isso tem como principal desafio a falta do seu próprio campo de produção.
Na sua opinião, o uso de técnicas agrícolas é uma medida mais apropriada para lidar com este desafio que aterroriza muitos agricultores como Abel Mavie, que vedou sua machamba com sacos de areia para impedir que suas culturas fiquem submersas.
Para Mavie, a colocação de sacos de areia seria uma solução viável para contornar este obstáculo, mas, Savele, diz que esta não passa de uma das medidas mais fracassadas, uma vez que a água vem de baixo do solo e não dos lados.
“Não sei mais o que fazer, tudo fiz para impedir que minhas culturas ficassem submersas, mas em nada resultou. Apenas me resta esperar a água baixar para trabalhar”, lamentou Mavie.