O desenvolvimento do sector agrário está estagnado devido às obsoletas políticas que constituem o principal desafio do sector – disse Tatiana Mata, numa entrevista concebida pelo EntreCAMPOS sobre o que está amargo no progresso da agricultura em Moçambique.
Tatiana Mata é uma mulher empreendedora do sector Agrário – Desenvolvimento Comunitário e Agronegócio, formada em Produção Animal e Economia Agrária. Seus empreendimentos estão mais virados no empoderamento da mulher e agricultura.
EntreCAMPOS
O que está a falhar no processo do desenvolvimento da agricultura?
Tatiana Mata
Para que a agricultura seja considerada como a base do desenvolvimento deste país é necessário, antes do mais, melhorar as políticas agrárias que constituem o principal desafio que impõe condições aos avanços do sector.
O Governo de Moçambique deve melhorar as políticas para não ser o próprio entrave no processo do desenvolvimento da agricultura. Criar projectos é fundamental, mas é necessário pensar e/ou incluir o sector privado na elaboração dos mesmos.
Moçambique já se beneficiou, desde que alcançou a independência, de mais de US$ 7 bilhões para o melhoramento da produtividade e produção agrícola, em Moçambique. Se até hoje nada mudou, alguma coisa está errada.
Acho que as políticas agrárias estão ultrapassadas ou não estão sendo aplicadas como deve ser. Há necessidade de fazer uma revisão profunda nelas.
Se formos a olhar para as políticas podemos entender que tudo foi contemplado, mas falta muita coisa por levar em consideração. Por exemplo, o fornecimento de seguros agrários para os pequenos agricultores que asseguram 97% da produção agrícola nacional.
EntreCAMPOS
Então, o quê deve ser feito?
Tatiana Mata
Há muita coisa por se fazer:
- O Governo deve incluir, nos seus planos do desenvolvimento agrário, o sector privado, que é a força motriz dos avanços do sector;
- Deve, igualmente, observar o nicho do mercado agrário em Moçambique, tendo em conta o sector privado;
- As políticas devem ter em conta a dinâmica da cadeia de valor do agronegócio, por forma incentivar as empresas privadas a prover soluções agrícolas ao benefício do produtor.
- O acesso ao crédito é muito fundamental para dinamizar a produtividade. Daí que era necessário criar mecanismos que asseguram as empresas que operam no sector principalmente de agronegócio com vista a permitir o acesso ao financiamento.
- Criar maior eficiência no acesso aos insumos agrícolas. Os programas de fornecimento de matéria-prima agrário deviam ser deixado para o sector privado, uma vez que tem apoio direto dos investidores interessados em investir na agricultura em Moçambique.
Por exemplo: quando o Governo iniciou a implementação do projecto SUSTENTA, fechamos uma loja de fornecimento de diversos agro-inputs desde sementes certificadas e fertilizantes testados a produtos químicos de protecção de culturas em Nampula. Onde fornecíamos também serviços de preparação mecanizada da terra e aconselhamento técnico especializado para apoiar as actividades agrícolas locais.
As nossas duas primeiras lojas eram localizadas nos distritos rurais de Nampula e Zambézia. Em Nampula – nos distritos de Namapa e Erati e, na Zambézia – no distrito de Morrrumbala, e beneficiava cerca de11 mil agricultores.
Antes da instalação das nossas lojas naqueles distritos, os agricultores de Erati viajavam 110 km para comprar insumos agrícolas, enquanto o fornecedor mais próximo dos agricultores de Morrumbala, se encontrava a mais de 250 km de distância.
Esta atitude fez com que cerca de 11 mil famílias de Nampula e Zambézia deixassem de beneficiar dos nossos serviços apoiados pela Hollard Insurance e a Klein Karoo Seed Marketing, dedicados no fornecimento de seguros de índice agrícola aos agricultores nas zonas rurais.
Era uma parceria que procurava melhorar a resiliência dos pequenos agricultores às alterações climáticas, garantindo o seu investimento em sementes em caso de perda de culturas induzida pelo clima.
EntreCAMPOS
E, qual é a avaliação que faz sobre o mercado agrário em Moçambique?
Tatiana Mata
Existe um elevado potencial mas ainda está no processo da sua estabilização. É preciso investir seriamente para alcançar as metas desejadas. As pessoas preferem comprar produtos no mercado Grossista do Zimpeto que receber o em sua própria residência.
A cultura de compra de produtos de qualidade ou certificado, em Moçambique, ainda é precário. As pessoas preferem comprar nos mercados informais que formais. O que acho não ter algo a ver com a falta de condições (dinheiro) para efectuarem compras nos lugares seguros, apenas por questão de cultura. O que as pessoas não entende é que o mais barato sai caro.